A cidade americana de Minneapolis foi palco de uma tragédia emblemática: a morte de George Floyd.
Um vídeo gravado por pessoas que presenciaram a ação policial para a detenção e prisão de George, escancararam para o mundo a brutalidade da abordagem e o que demonstrou ser um ato de execução.
Os policiais envolvidos na operação foram demitidos com as desculpas expressas pelas autoridades, mas a frieza com a qual o policial Derek Chauvin estrangulou Floyd falou mais alto que qualquer escusa.
Processado criminalmente, Chauvin foi condenado por homicídio qualificado.
A Justiça se fez. Mas algo de fato me incomoda.
Nestes 36 anos de atividade profissional, atuei em milhares de processos, patrocinando a defesa de policiais militares, na justiça comum e militar. Como cidadão operador do direito, integrei a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, sendo nomeado várias vezes pela presidência do Conselho Federal, como relator especial para investigar e apurar casos complexos de âmbito nacional.
Pude testemunhar casos graves de desrespeito aos mais comezinhos direitos da pessoa, discriminação e exclusão. Também enfrentei hipocrisias, esquerdismos, militância irresponsável e vitimismo.
A abordagem tratada no caso George Floyd foi de fato desastrosa. Revela o racismo estrutural e cotidiano seguidamente denunciado na atuação dos corpos policiais nos Estados Unidos (e não apenas lá).
Porém, me incomoda o populismo racialista protagonizado por grupos radicais em torno do assunto - nos EUA e aqui também no Brasil.
O populismo é uma tragédia. Ninguém ganha, todos perdem. O que sobra é o rancor social.
Racismo e racialismo são extremos de intolerância aparentemente opostos, porém próximos na ferradura que expressa o arco de posturas e ideologias identitárias do mundo político e social.
A meu ver, o resultado unânime do julgamento deve-se, não por conta da má ação praticada mas, primordialmente, ao fato do ex-policial ter se RECUSADO a testemunhar em defesa própria. Para o júri, a recusa é sinal de admissão integral da culpa.
Derek agiu mal, mas muito contribuiu para o fato trágico o procedimento padrão policial para o qual foi treinado. ISSO deverá, finalmente, mudar.
O grande aprendizado a ser absorvido nessa triste história é que no mundo transparente e globalizado atual, não há mais espaço para a intolerância, a insensibilidade burocrática e para o abuso no exercício da autoridade.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View".
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